quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Vem viver aqui fora



“Isso nunca vai acontecer comigo”.

Quando você tem o dedo podre, nem a tecnologia pode te ajudar.

Parecia saudável e divertidíssimo até o “match” sair pela culatra. Seu tinder, suas regras e ponto. Primeiro você julga pelas fotos, depois pelo papo e... vamos ao climão MAIS chato da Copa do Mundo.

Ah, saudades Copa! O Brasil saiu vitorioso naquela partida, no sufoco clássico, claro, e o convite para comemorar o placar veio juntamente com o pretexto de que a gente precisava se conhecer. Ele escolheu o bar, eu decidi o horário. Chegando lá, o cara do aplicativo era mais psicopata que o convencional e suas fotos tinham mais filtro que o normal. Conhecer pessoas por meios tecnológicos requer certa paciência. Na verdade, isso é teste pra cardíaco.

Entramos no bar que ele escolheu e imediatamente tentei bolar um plano para sair daquela saia justa, afinal o meu São Jorge avisou que aquilo era cilada. Sugeri irmos para outro bar, porque eu tinha certeza que encontraria pelo menos uns dez conhecidos lá que me salvariam, mas ele não topou. Não pude escolher minha cerveja preferida e o papo não começou. Ele ficou calado, apenas me analisando. CLIMÃO!

Abordei um assunto aleatório e a patifaria começou. Ele discordava de tudo. Discordava em tom de discussão, quase briga e pancadaria. Desdenhava de cada opinião, tentou traçar meu perfil psicológico e pedia mais cerveja. Cada minuto parecia a eternidade e as alfinetadas não paravam. Ele se julgava “Ô Cara” mais conhecedor do circuito Rio/São Paulo. Pegador das gatas do litoral catarinense. O melhor poeta bêbado dos últimos tempos. O programador bem sucedido da cidade, que chato. Alegou que eu não era tão interessante assim e só estava ali para saber o que eu pensava dele. Abriu o e-mail e leu um texto, mais doido do que todos desse blog juntos.

Garçom chega! Traz a conta, por favor.

Bom, o Allison se irritou quando me levantei. Afirmou que eu estava me fazendo de princesa o tempo todo e não queria que eu fosse embora. Tentou justificar sua atitude grosseira como uma arma de sedução. Arma de sedução? Querido, volte duas casas!

Entre os torcedores comemorando o bom desempenho da seleção, me infiltrei no alvoroço em passos largos, sem olhar pra trás.

Enfim, nada como o velho e infalível flerte. Aquele ao vivo, de verdade, à primeira vista. Na rua, na pista, no balcão, sem intervenções e invenções. Pra não ser surpreendido, sai do app e vem viver aqui fora.


2 comentários:

  1. Maravilha de texto!
    Hoje as pessoas vivem de aparencia do rosto mais por dentro mortas.
    Sorrir,viver,errar e aprender.

    Admiro você seus textos e seu sorriso
    Um beijo

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