“Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
se a tesoura do cabelo
se a tesoura do cabelo
também corta a crueldade” Tom Zé – Senhor Cidadão
Uma vida inteira vivendo um “bad hair day”. Uma vida inteira esperando o empoderamento dos
cachos. Quando vi essa foto me senti abraçada e pensei: nós conseguimos!
Palavras-chave: bullying,
cabelo, crueldade, intolerância, climão, preconceito, cachos.
Talvez eu tivesse melhores recordações da infância se não
fossem as feridas causadas pela intolerância dos outros, pelo dedo apontado na
cara por ser “diferente”, o tal do bullying.
Minha mãe me acalmava dizendo que era coisa de criança. Depois
seria diferente. Esse “depois” nunca chegava. Colecionei os mais variados
apelidos durante a infância mas tinha esperança de que na adolescência tudo
seria diferente. Foi nada. Foi pior. Foi climão.
Me arrependo muito das manhãs mal dormidas pra fazer escova
e chapinha, porque foram muitas, hahaha. Que vida sofrida! Aquele que nunca fez
nada para ser aceito socialmente, que atire o primeiro tubo de formol. Então na
vida adulta tudo isso teria um fim? Que isso, preconceito também envelhece! É cultural,
não tem faixa etária.
[Relatos leves]
Já tive que cortar o meu cabelo à lá Gal Costa para
conseguir um emprego.
Ouvi de um colega de trabalho que não haveria problema em andar a pé numa
rua perigosa da cidade, afinal com esse cabelo facilmente seria confundida
com um pivete e logicamente não seria assaltada. CLIMÃO.
Digeri também o comentário da mãe de um crush que ele não poderia cogitar a hipótese de namorar comigo,
afinal, o que a família tradicional brasileira deles acharia do meu cabelo?!
PESADO.
É cada um que aparece pra testar a nossa fé!
[ ]
O bad hair day
passa longe quando a gente se aceita e tem orgulho de quem é. Mas confesso que
quando recebo um elogio, desconfio se não é bullying.
Trauma, quem nunca?!
Debaixo desses caracóis meus e dos outros têm tantas histórias, pessoais como ancestrais,
que alisamento nenhum é capaz de apagar. Mas fico matutando aqui enquanto escrevo, se preconceito AINDA existe com o
cabelo do próximo, imagina com o resto né minha gente?
Cabelo feio, duro, vassoura, ruim, que não presta, “entra água
aí?”, Bombril! Preso ou armado? Essa moda não é pra qualquer um, é pra quem tem
coragem - assim como tudo que vai à contramão.
Mas me diga: a tesoura do cabelo também corta a crueldade?
Foto @nathaliebarros
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