quinta-feira, 28 de abril de 2016

BAD HAIR DAY



“Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
se a tesoura do cabelo
se a tesoura do cabelo
também corta a crueldade”  Tom Zé – Senhor Cidadão

Uma vida inteira vivendo um “bad hair day”. Uma vida inteira esperando o empoderamento dos cachos. Quando vi essa foto me senti abraçada e pensei: nós conseguimos!

Palavras-chave: bullying, cabelo, crueldade, intolerância, climão, preconceito, cachos.

Talvez eu tivesse melhores recordações da infância se não fossem as feridas causadas pela intolerância dos outros, pelo dedo apontado na cara por ser “diferente”, o tal do bullying. 

Minha mãe me acalmava dizendo que era coisa de criança. Depois seria diferente. Esse “depois” nunca chegava. Colecionei os mais variados apelidos durante a infância mas tinha esperança de que na adolescência tudo seria diferente. Foi nada. Foi pior. Foi climão.

Me arrependo muito das manhãs mal dormidas pra fazer escova e chapinha, porque foram muitas, hahaha. Que vida sofrida! Aquele que nunca fez nada para ser aceito socialmente, que atire o primeiro tubo de formol. Então na vida adulta tudo isso teria um fim? Que isso, preconceito também envelhece! É cultural, não tem faixa etária.

[Relatos leves]

Já tive que cortar o meu cabelo à lá Gal Costa para conseguir um emprego.

Ouvi de um colega de trabalho que não haveria problema em andar a pé numa rua perigosa da cidade, afinal com esse cabelo facilmente seria confundida com um pivete e logicamente não seria assaltada. CLIMÃO.

Digeri também o comentário da mãe de um crush que ele não poderia cogitar a hipótese de namorar comigo, afinal, o que a família tradicional brasileira deles acharia do meu cabelo?! PESADO.  
É cada um que aparece pra testar a nossa fé!

[  ]

O bad hair day passa longe quando a gente se aceita e tem orgulho de quem é. Mas confesso que quando recebo um elogio, desconfio se não é bullying. Trauma, quem nunca?!

Debaixo desses caracóis meus e dos outros têm tantas histórias, pessoais como ancestrais, que alisamento nenhum é capaz de apagar. Mas fico matutando aqui enquanto escrevo, se preconceito AINDA existe com o cabelo do próximo, imagina com o resto né minha gente?

Cabelo feio, duro, vassoura, ruim, que não presta, “entra água aí?”, Bombril! Preso ou armado? Essa moda não é pra qualquer um, é pra quem tem coragem - assim como tudo que vai à contramão.

Mas me diga: a tesoura do cabelo também corta a crueldade?


Foto @nathaliebarros

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