Eu não posso trabalhar no banco, porque sou formada em Design
e pouco ajudaria meu grau de instrução na ação de vender títulos de
capitalização, seguros, cartão de crédito, abrir conta, entender de juros,
dólar, okay. Mas pra vender roupa tá valendo tudo e quem quiser. A moda é
incoerente em todos os segmentos - claro, mas hoje, escrevo de um caso isolado:
o varejo da moda.
Não é de hoje que escuto o lamento dos outros e meu,
inclusive, sobre o famoso shopping. Existe um preconceito inabalável sobre
vender moda, ou roupa, vestuário, “brusinhas”, como seu pré-conceito quiser. E não
poderia ser diferente. Um sistema tão corrupto não poderia estar livre disso. Acontece
que ser vendedor não é tarefa tão fácil assim e muito menos pra qualquer um.
Assim como ser advogado, empresário, psicólogo, alfaiate, escritor, pra vender você
precisa de talento, e, moda meu caro, principalmente. E não me venha com o
discurso batido de que moda é fútil, porque até então não andamos nus. Quem você
é? Sua roupa pode me dizer muitas coisas, sem ao menos trocarmos uma palavra.
Quando tive que sair do emprego do qual tinha muito
orgulho, afinal, “era minha área” meu chefe questionou com todo desdém: vai
fazer o que agora? Voltar pro shopping? Sim! Pro shopping, obrigada de nada. Pelo
menos não levo trabalho pra casa, não sofro bullying
de cliente, nem recebo e-mails com dose de depressão em anexo.
Viu só... O
shopping tem lá suas vantagens.
Mas depois de muitos tropeços e tapas na cara eu passei a
respeitar o segmento. Sim, estava no sistema e fazia questão de criticar com
tópicos intermináveis. Tem gente que faz carreira no shopping sabia? Compra casa,
carro, cria filhos, faz viagens... Pois é. Meu preconceito nunca me deixou
enxergar isso. Mas assim como qualquer outro ofício, não é fácil vender algo
que as pessoas não precisam. E argumentos pra moda necessitam ser precisos,
rápidos e eficientes. Vender o que está no catálogo, no outdoor, vestindo a
modelo manequim 36, bem maquiado com retouch e muito truque de styling, é digno. A finalidade de catálogos, outdoors, revistas, anúncios e muito
marketing é vender a palhaçada toda. Dinheiro sustenta o sistema e ele vem do
varejo, ora bolas (hoje abalado pela internet).
Mas aí é que começa a discrepância no varejo de moda. Se eu
não tenho aptidões pra trabalhar no banco, por exemplo, porque a pessoa de
outra área tem livre acesso e aceitação no shopping? Simples. Porque não tem política,
respeito, claro. Leu uma revista – que no caso é ver imagens – e pronto, sei de
moda. Sabe de nada, inocente. Falar que a “brusinha” é
linda/maravilhosa/delícia, é fácil pra bater meta. Quero ver vender algo que
combine com o biótipo e situação-problema do cliente e acrescentar outras que
ele não precisa com argumentos palpáveis.
Vejo lojas e lojas com pessoas infelizes, reclamando do
feriado, do sábado, do domingo, da meta, do salário, disso, daquilo. No
entanto, não acredito que o emprego tradicional da família brasileira, de segunda à sexta das 8h às 18h seja tão incrível. Já senti o gosto de um emprego assim, mas
tinha menos vida, do que hoje, trancada no shopping alguns feriados ou domingos. Fez faculdade de moda e está reclamado de ser vendedor porque não
estudou pra isso? Pelo menos você está trabalhando e sabe o que está vendendo –
o país está indo de mal a pior, é melhor agradecer. Imagina quem fez Ciências Sociais
e está no shopping? Que clima chato!
_ Ah, mas moda a gente aprende, pega o jeito!
A falta de senso é o novo preto ¬¬
É, mas eu não posso ser bancária. Contadora. Arquiteta.
Médica. Nessas áreas você precisa de estudo né? Não de jeitinho.
O mais curioso da divergência toda? Todo mundo cresce no
shopping. Menos quem entende da coisa (fatos verídicos). Porque não é conhecimento que conta, e
sim, números, falsidade e muito desaforo levado pra casa, no ônibus de
preferência.
Esses dias conheci uma velha marca, numa loja nova, na qual fui
SUPER/MASTER/bem atendida, pela vendedora que sabia de cada detalhe dos
vestidos. Do design das peças. O porquê das cores. O tema da coleção. A
conversa que as roupas tinham. O discurso das araras. Ela não me vendeu nada –
porque teria que vender um terreno pra comprar algo lá, haha - além de uma
reflexão valiosa, do quanto tem gente medíocre/despreparada vendendo roupa pra
você, pra mim.
Ah, eu não quero ser bancária, só usei o ofício como
exemplo, porque minha mãe queria MUITO que eu fosse uma, e sempre me compara a uma
prima que é bancária e o quanto ela é bem sucedida, sendo que temos quase a
mesma idade. Bom, ela deve ser mais ambiciosa e menos arrogante que eu. Mesmo assim, ainda prefiro vender “brusinhas modas” a seguro. Perdão Mãe!
Enfim, o Diabo veste Prada, CLIMÃO!